FÁBRICA MASCANRENHAS

PARTICIPAÇÃO EM CONCURSO NACIONAL DE ARQUITETURA E URBANISMO PARA A FÁBRICA MASCARENHAS E ENTORNO – JUIZ DE FORA/MG

Um lugar de referência simbólica para a cidade, testemunho de sua história e das atividades econômicas que se transformam com o tempo. Um espaço de encontro, endereço da cultura em Juiz de Fora. Local para promover o bem estar das pessoas, privilegiando o pedestre como agente principal e como mediador da qualidade de vida dos espaços públicos e da vitalidade urbana.

Ao longo da história de Juiz de Fora, o espaço Mascarenhas passou por transformações no seu uso, na espacialidade e nas características arquitetônico-urbanísticas.

A mudança do uso fabril para o predominantemente cultural ocorreu aos poucos, mas nem sempre, do ponto de vista do conjunto, teve um ordenamento territorial planejado. Pelo ambiente resultante, percebe-se que as inserções arquitetônicas contemporâneas e a gestão dos vazios desarticularam espaços construídos e espaços livres. Dessa forma, o conjunto resultante parece uma sobreposição de camadas desorganizadas sob o aspecto da composição e morfologia do todo.

Ao contrário de uma leitura simplesmente formal, os espaços livres e artefatos construídos, cumulativamente, acabam por configurar, hoje, um espaço vivo, útil, e apropriado pela comunidade. Antigo conjunto fabril, o Espaço Mascarenhas é patrimônio indiscutível e preservado de Juiz de Fora.

Com isso em mente, a presente proposta se coloca como um “masterplan” que sugere usos e espacialidades complementares às estruturas existentes, atenuando fluxos, quando necessário, rearticulando elementos presentes no lugar, quando são referência, e valorizando os artefatos e espaços que possuem características simbólicas inscritas em sua história.

 

ATENUANDO FLUXOS

A premissa é resultar num espaço em que a preferência seja do pedestre, e também integrar os retalhos de espaços livres existentes da Praça Antônio Carlos e adjacências. Para isso, uma resposta possível é a atenuação dos fluxos de ônibus e a passagem de veículos na Travessa Dr. Prisco.

Sendo assim, propõe-se uma pavimentação compartilhada, diferenciada e corretamente sinalizada em que o fluxo de veículos tenha a velocidade limitada a 20km/h. O objetivo é promover a segurança dos pedestres e integrar usos entre o núcleo central da praça e os espaços livres remanescentes.

Sugere-se, para viabilizar esse objetivo, o desvio da maioria das linhas de ônibus desse trecho para a Rua Espírito Santo, num primeiro momento, e, numa segunda etapa, verificar a possibilidade de uma derivação marginal da Av. Pres. Itamar Franco na esquina da Rua Ângelo Falci.

 

REARTICULANDO ELEMENTOS

Para os espaços internos do Centro Cultural Bernardo Mascarenhas e do Mercado Municipal são sugeridas novas distribuições internas, quando se percebem convenientes para qualificar as espacialidades e atividades ali desenvolvidas.

No edifício da Biblioteca Murilo Mendes propõe-se uma rearticulação mais profunda que permeia novos espaços internos e, em alguns casos, reconstrói elementos estruturais, da fachada e mesmo de espaços servidores e de apoio.

O estacionamento dos fundos do Mercado é pensado para ser um trecho de rua compartilhada. Recebe então tratamento paisagístico condizente com essa condição e tem sua reconstrução pensada em três fases distintas, conforme diagramas apresentados.

 

VALORIZANDO ARTEFATOS

Uma das razões para as mudanças propostas nos edifícios da Biblioteca, do Mercado e do Centro Cultural é a adequação dos prédios às normativas de acessibilidade e segurança, diretrizes indiscutíveis na atualidade.

Nos três edifícios são propostos novos sistemas de circulação vertical e sanitários.

O térreo da Biblioteca, por exemplo, é repensado para permitir maior permeabilidade visual e de percursos, sempre pensando no conjunto. Na fachada norte são propostos sistemas externos de controle solar e sombreamento translúcidos que auxiliam na manutenção do acervo.

No Mercado Municipal, sugere-se uma reinserção de escadas, núcleos sanitários e vazios que qualifiquem os espaços internos. A intenção é incrementar a luz natural interna e melhorar o arejamento dos espaços para melhor qualidade do ar, especialmente por ser um ambiente sujeito à aglomeração.

Para o Centro Cultural, é proposto um novo elevador com maior capacidade e duas escadas que, além de melhorar os percursos internos, atendam adequadamente às necessidades de saídas de emergência em edificações.

O paisagismo propõe que elementos como fachadas históricas, reservatórios de água e chaminé, entre outros, tenham suas perspectivas abertas à apreciação visual.

 

A PRAÇA ANTÔNIO CARLOS

Com a atenuação de fluxos de veículos configura-se um espaço livre aberto à fruição do pedestre. Os usos pré-existentes como: skate, lazer infantil, feira e shows são mantidos e rearticulados. No caso de shows e feira são sugeridos posicionamentos concomitantes ou independentes, mas sempre provisórios.

O elemento articulador dessas atividades passa a ser um elemento paisagístico construído. Um círculo construído em estrutura metálica com diâmetro interno de 36 metros. Esse artefato constrói no conjunto uma nova significação, um espaço livre de encontro e atividades. Durante a noite o mesmo elemento se torna uma luminária urbana e, em conjunto com a iluminação pública proposta, garante ambiência e segurança para as atividades da população.

Em termos arbóreos, a praça é pensada como uma clareira no local da feira, permitindo a visualização do patrimônio construído; e, nos demais espaços, como um pequeno bosque sombreado. A vegetação atual é mantida e são inseridas novas espécies arbóreas nativas em locais estratégicos para reforçar a concepção da paisagem descrita acima.

A fachada da ruína/antiga subestação é mantida, retirando os excessos, e liberando espaço para um possível jardim de esculturas ao ar livre.

 

MASTERPLAN

A proposta urbanística leva em conta pré-existências que colaboram para a vitalidade urbana do Centro de Juiz de Fora como, por exemplo, as ruas para pedestres e as galerias de comércio. Esses elementos da realidade cotidiana da cidade revelam a apropriação dos espaços pelas pessoas, do seu caminhar e da sua maneira de usufruir da vida. Nesse sentido, um dos objetivos centrais é justamente promover percursos seguros e que criem interesse em usar a cidade.

Para o entorno e a Praça Antônio Carlos é proposto um piso que organiza a fragmentação espacial, entendendo assim o chão da cidade como referência de orientação espacial primitiva das pessoas. A lógica é promover diferenças de textura e cor nos pisos para manter seguros os percursos.

A reforma da praça, da rua, e de seus espaços adjacentes pressupõe além da pavimentação e calçamento adequados, a infraestrutura urbana, a iluminação pública e a arborização, já num primeiro momento.

Pensa-se nesse lugar como consequência natural de percursos peatonais que tem origem em espécies de “entradas” para esse lugar da cidade. As vias que constituem essas entradas seriam: a Av. Pres. Itamar Franco, a Rua Santa Rita, a Rua Barbosa Lima, a Rua Barão de São João Nepomuceno, a Av. Getúlio Vargas e a Praça João Penido.

Sugere-se a pedestrialização e/ou compartilhamento de Ruas como a Halfeld e a São João Nepomuceno, mesmo que em etapas posteriores de implantação do “masterplan”, e também sujeita a estudos de tráfego consistentes.

 

FASEAMENTO CONSTRUTIVO

Tem-se em mente que um bom “masterplan” deve sequenciar corretamente as ações, permitindo ao poder público buscar financiamento para as etapas posteriores do empreendimento. Sugere-se o seguinte sequenciamento:

1-            Implantação de pavimentação e paisagismo da Praça Antônio Carlos, da Rua Paulo Frontin e a reforma do Centro Cultural Mascarenhas, conforme edital desse concurso público.

2-            Estudo de possível aquisição ou proposta de uso concessionado dos lotes entre o estacionamento existente e a Av. Getúlio Vargas com fins de incremento na área pedestrializada nos fundos das edificações, conformando uma nova rua, e a reforma do Mercado Municipal.

3-            Reforma da Biblioteca Murilo Mendes, conforme estudo apresentado nesse concurso, a ser discutido com as instituições envolvidas; e o estudo da viabilidade construtiva do estacionamento em subsolo na rua de ligação criada entre a Paulo Frontin e a Av. Getúlio Vargas.

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Parte-se do princípio, para esse “masterplan” que a arquitetura e o urbanismo devem ser sempre fruto do diálogo entre as pessoas. Ou seja, não há projeto nessa área que não seja colaborativo ou feito por várias mãos.

Todo projeto urbano é uma construção coletiva, que passa pela interlocução: do poder público, das comunidades locais organizadas, dos grupos políticos municipais, da população em geral, das instituições envolvidas, do corpo técnico autor dos projetos e também da fiscalização organizada para essa função. Entende-se a presente proposta como obra aberta à discussão e à participação colaborativa. Como todo “masterplan”, essas premissas iniciais servem como sugestões e provocações ao debate, mas aqui já se encontram disponíveis os primeiros estudos e sugestões em torno dos quais a transformação da cidade e de seus espaços pode ocorrer.

O PROJETO

A EQUIPE

Autores

Estúdio 41

Arq. Emerson Vidigal

Arq. Eron Costin

Arq. Fabio Faria

Arq. João Gabriel Cordeiro

Arq. Martin Goic

Equipe: Beatriz Dutra (Colaboradora); Christiana Vieira (Colaboradora); Lucas Medeiros (Colaborador).

FICHA TÉCNICA

Fábrica Mascarenhas – Juiz de Fora – MG – 2020

Ficha técnica:

Projeto de espaços livres, paisagismo e urbanização: 14.760 m²

Área construída das edificações: 8.900 m²


@ Estúdio41 Arquitetura. Design: 095
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