Morro da Manteiga – Camaçari – BA

Morro da Manteiga

Camaçari – BA – 2019
Projeto Premiado em Segundo Lugar no Concurso Nacional.

A cidade de Camaçari, como a maioria das cidades brasileiras, é carente de espaços de lazer qualificados que atendam às necessidades recreativas e de descanso da população.

Sistemas de espaços livres integrados são fundamentais nesse sentido e devem ser estruturados e mantidos ao longo do tempo de forma a criar redes de áreas verdes com distintas escalas cuja função central seja a fruição pública. Os parques urbanos, assim constituídos, têm que desempenhar nesse contexto sua função ecológica, paisagística e recreativa.

Desenhar e conformar um território transmitindo a história de sua recuperação. Educar e sensibilizar as pessoas sobre a importância do meio ambiente local, sua vizinhança, e sua cidade. Construir espaços de encontro, lazer e entretenimento ao ar livre para a toda a população. Edificar valores intangíveis, atemporais, que contem a história da relação entre o ser humano e o planeta, entre o que somos e o que pretendemos para o futuro e as próximas gerações. Esse é o motivo da concepção de um parque.

O Parque do Morro da Manteiga é uma oportunidade única de induzir a criação de um sistema de espaços livres integrados ao Anel Florestal e à bacia do Rio Camaçari permitindo à população aproveitar e ao mesmo tempo aprender sobre a preservação ambiental na sua cidade e na sua região.

A área do Morro da Manteiga, degradada entre outros fatores pela atividade de lavras, torna-se então um espaço de possibilidades para que estratégias territoriais de recuperação gerem lugares de uso da população.

As diversas intervenções realizadas desde 2010 contribuíram para a estabilização das encostas e taludes do morro, também pela construção de um sistema de drenagem. Entretanto, para termos um parque, essas ações não bastam. É necessário estabelecer claramente quais as estratégias de desenho mais se adaptam ao contexto proposto, bem como os desdobramentos necessários no sentido de manter um cronograma de investimentos – ao longo de pelo menos vinte anos -, alicerçado em políticas públicas concretas, para que o Morro da Manteiga seja recuperado, redesenhado e mantido funcional ao longo do tempo.

ESTRATÉGIA DE IMPLANTAÇÃO

A geometria proposta para os traçados parte de linhas paralelas derivadas do tecido urbano existente, especialmente a continuidade das linhas de arruamento dos bairros Novo Horizonte, ao sul, Nova Vitória a sudoeste e Bairro do Natal a oeste.

A partir dessa leitura, entende-se a existência de duas camadas topográficas principais e complementares: a base do morro e o platô em seu topo.

A base do morro possui um desenho sinuoso de meandros topográficos, propício à implantação de pista de corrida, caminhada e ciclovia. Esse circuito também pode resolver o perímetro de proteção da área do parque ao mesmo tempo em que tem a função de promover acessos de pedestres e ciclistas ao local. Dessa forma, três praças de acesso são propostas partindo dos bairros contíguos.

O platô no topo do morro é então reservado aos usos contemplativos, de permanência e para usufruir das visuais.

Entre as visuais possíveis, identificam-se como forte potencial: a do Anel florestal e a do Polo Petroquímico, ao norte e a do Rio Camaçari que contorna o morro a noroeste.

Também para o topo do morro sugere-se o desenho de um equipamento público configurado como uma plataforma construída, configurando configura e organizando fluxos, contribuindo para a criação da identidade de parque urbano e qualificando os espaços livres propostos.

A conexão entre a base e o topo do morro se dá pela implantação de caminhos e trilhas para pedestres. Ao mesmo tempo, junto à Avenida Dilson Magalhães – via de contorno a nordeste – propõe-se um acesso de veículos, paradas de transporte coletivo e chegada de ciclovias.

A opção em ocupar preferencialmente a base e o topo do morro ocorre em função da intenção de preservar as encostas, recompondo a paisagem através da estabilização de taludes nos quais sugere-se a revegetação.

EQUIPAMENTO – PLATAFORMA

Topo do morro, um equipamento proposto – um artifício – organiza fluxos e atividades.

A identificação ou mesmo a ressignificação de um lugar através da construção de um novo equipamento está na gênese da presente proposta para o Parque do Morro da Manteiga.

A geometria que organiza esses espaços de topo está baseada na figura de dois quadrados de dimensões diferentes conectados através de um eixo que tangencia uma face de cada elemento.

O vazio interior ao quadrado maior abriga um espaço livre multifuncional e flexível, podendo abrigar eventos com presença de público ao ar livre como shows musicais e apresentações, por exemplo. Outros usos possíveis estão associados à celebração da festa religiosa da Paixão, que tradicionalmente ocorre no local.

Em sua porção Oeste imagina-se que o pavilhão receba usos como um centro educativo focado na recuperação do morro e na educação ambiental. Na face Sul, teríamos o bloco de administração do parque e as áreas de apoio com sanitários públicos.

O quadrado menor, a Leste, abriga em seu interior equipamentos esportivos, quadras, pista de skate e contra com sanitários e vestiários públicos.

Uma alameda conecta esses dois pátios conformando um passeio nas cotas mais altas do relevo. Nesse eixo, a arborização e os postes de iluminação reforçam a perspectiva no sentido leste oeste, promovendo a vitalidade e conectividade para as atividades recreativas da população. Durante a noite, esses postes de iluminação marcam no contexto da cidade de Camaçari, a presença de um novo artefato, um espaço público para o uso de todos.

FASEAMENTO

Não se constroem estruturas da natureza de um parque urbano de forma que estejam imediatamente acabadas. São ações distribuídas ao longo do tempo que garantem a efetiva consolidação desse tipo de equipamento público.

Num primeiro momento, as ações de estabilização de solo e as medidas ambientais são essenciais para dar início ao processo. Especialmente no caso do Morro da Manteiga, ainda ameaçado por processos de degradação, não mais decorrentes das lavras, mas principalmente da pressão urbana do entorno.

Sugere-se assim um faseamento da implantação que possa ocorrer da seguinte maneira:

1- Execução de elementos vegetais pioneiros, mudas de árvores, arbustos e forrações em trechos de preparação para o parque, especialmente em encostas e taludes.

2- Implantação de viveiro de mudas na porção noroeste do terreno.

3- Execução de pavimentação para pistas de caminhada e ciclovias nas cotas mais baixas que servirão de elementos conectores aos diversos pontos.

4- Construção das praças de chegada inferiores permitindo o acesso da população ao perímetro externos da intervenção.

5- Implantação de vegetação arbórea primária com espécies nativas em linhas e alamedas tanto nas praças de acesso e ao longo da ciclovia.

6- Asfaltamento da via de veículos que leva às cotas mais altas – platô – do Morro da Manteiga.

7- Preparo das áreas para pisos de caminhada e mirantes na parte superior do parque.

8- Execução da plataforma que organiza usos e fluxos no platô superior.

9- Implantação de vegetação arbórea pioneira com espécies nativas em linhas e alamedas ao longo da plataforma, mirantes e áreas de permanência no platô superior.

10- Manutenção das espécies vegetais e inserção dos elementos definitivos ao longo da primeira década.

Importante destacar que a instalação do viveiro de mudas em papel essencial na manutenção do parque. Conjuntamente, sistemas de produção local de adubos e compostagem dos resíduos produzidos coletados no parque e entorno, são fundamentais para que o ciclo de manutenção seja atendido, especialmente na primeira década após a instalação do Parque do Morro da Manteiga.

***

A gestão de projetos de escala urbana dessa natureza deve envolver a participação das comunidades locais como elemento central de seu processo de tomada de decisão. Projetar espaços que possam se tornar lugares de encontro, convívio, descanso e lazer do ser humano é uma tarefa coletiva que transcende as equipes multidisciplinares de projeto e torna-se bem sucedida somente quando pressupõe o envolvimento comunitário.

Partindo do princípio que o projeto de um parque é um plano aberto, que apenas se inicia, assume-se que a tarefa de envolver as pessoas deva ser incorporada em etapas sequenciais ao concurso e assim o projeto assumirá contornos de realidade, garantindo o mínimo necessário de qualidade ambiental para os futuros usuários de seus espaços. A manutenção das estratégias de implantação e conservação ambiental ao longo do tempo é elemento central para o sucesso do empreendimento. Só dessa forma se estabilizam e sedimentam os processos que concretizam um espaço livre público de qualidade.

O PROJETO

A EQUIPE

Autores
Arq. Emerson Vidigal
Arq. Eron Costin
Arq. Fabio Faria
Arq. João Gabriel Cordeiro
Arq. Martin Goic

Equipe
Leonardo Almeida Vinhal (Colsultor em Geotecnia)
Paula Farage (Consultora em Meio Ambiente e Paisagismo)
Karin Matzkeit (Colaboradora)
Susanna Brolhani (Colaboradora)
Gabriel Tomich (Colaborador)
Matheus Fernandes (Colaborador)
Eduardo Hungaro (Colaborador)

FICHA TÉCNICA

  • Projeto de espaços livres, paisagismo e urbanização: 678.130,17 m2
  • Área construída das edificações: 12.251,53 m2
  • Ciclovia: 4.975,80 m

@ Estúdio41 Arquitetura. Design: 095
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