CIDADE COMUM

 

A polarização da sociedade é só um dos aspectos do momento político em que vivemos. Mas a adoção de um lado, de um polo oposto ao outro, não deveria significar interrupção no processo de desenvolvimento e progresso de um país.

O atual estado de pandemia em decorrência da COVID-19 poderia servir para pensarmos sobre a nossa evolução como comunidade, sobre como tomar decisões importantes para todos, da melhor forma possível, a partir das melhores informações disponíveis.

Infelizmente, não estamos mais conseguindo estabelecer o diálogo entre as nossas diferenças, parece que perdemos a capacidade de escutar a opinião do outro e contrapor de forma coerente. Em parte, porque o discurso oficial se baseia num discurso de ódio às diferenças. Ou seja, deliberadamente não se respeita mais o que é diferente, o que é divergente e o que é diverso.

De outro lado, isso ocorre também porque interpretamos a realidade através de fake news fabricadas somente para criar ruído e inviabilizar o debate que a sociedade precisaria fazer.

Como sociedade democrática ainda temos muito que aprender antes de atingirmos alguma maturidade.

Apesar de tudo, a arquitetura e o urbanismo, dentro desse contexto de ineficácia do diálogo político, continuam sendo campos de atuação para procurarmos nos ocupar dos problemas da cidade e dos lugares onde vivemos.

Na última década, de alguma forma ainda não consistente, tentamos lidar com a questão da habitação. Dentro desse debate, uma das perguntas que temos tentado abordar é: como as nossas cidades poderiam dar melhores respostas nas questões da moradia, da qualidade de espaços públicos, enfim, nas questões espaciais que interferem na vida do cidadão?

Em primeiro lugar, a resposta parece passar pelo encontro de diretrizes que a própria sociedade entende como boas práticas de planejamento urbano e projeto de arquitetura. Quais premissas são importantes no contexto brasileiro e nos contextos locais? Onde podemos encontrar desejos partilhados, construídos coletivamente?

Em resumo, a questão parece ser: como encontrar o comum? Aquilo que não nos diferencia, mas que nos conecta e faz com que possamos planejar o futuro. E o que esses desejos comuns representam em termos de espaços públicos e como podemos pensar melhores moradias de interesse social, por exemplo?

O arquiteto é o profissional que pode intermediar esse debate em busca de convergência. Seja na nossa cidade, em Curitiba, seja no local onde ele atua.

Temos tido a oportunidade de desenhar novos bairros, novos núcleos de desenvolvimento urbano, em cidades como Brasília, Ceilândia e São Paulo.

Nesses lugares, como em todo Brasil, há carência de discussão e falta qualidade nas intervenções urbanas.

Nos últimos anos, foram alguns poucos concursos de projeto no Brasil, que trataram do tema da habitação de interesse social. Só os promovidos pela CODHAB, no Distrito Federal, seriam de fato significativos. Foram organizados com esse objetivo no contexto das cidades como: Sobradinho, Samambaia, Águas claras, Ceilândia. Em São Paulo, tivemos o concurso do Subsetor A1 da Operação Urbana Consorciada da Àgua Branca, por exemplo, em 2015.

Também desenvolvemos em 2019, em conjunto com estudantes de arquitetura, um ensaio teórico sobre a habitação de interesse social em Curitiba, no qual discutimos o uso do solo como oportunidade de promover arquitetura e moradias de qualidade em toda a cidade e não só na sua periferia.

Esse trabalho participou da mostra Arquitetura para Curitiba e esteve exposto no Palácio Iguaçu e no Memorial de Curitiba ao longo do ano passado. De qualquer forma, a atividade profissional no nosso campo depende das políticas de governo e das políticas de estado.

No Brasil, acabamos desperdiçando muita energia em bons projetos, boas reflexões, que nunca são construídas, simplesmente porque quando muda de um governo para o outro há uma tendência a engavetar propostas dos políticos antecessores, sempre considerados adversários. Muito se fala no combate à corrupção, que de fato é importante, mas se fizéssemos uma conta de quanto dinheiro a sociedade perde no nosso país em função de não desenvolvermos políticas de estado duradouras, ficaríamos assustados.

Projetos relacionados a esse texto:

  • Operação Urbana Consorciada da Água Branca em São Paulo-SP

Urbanização que contempla habitação de Interesse Social para 1400 famílias, além do projeto das ruas e praças do novo Bairro. Como equipamentos previstos estão um parque junto à Marginal Tietê, uma Escola, Centro Comunitário e Unidade de Saúde.

Plano de Urbanização Subsetor A1 – Água Branca

  • Setor Habitacional Pôr do Sol – Ceilândia-DF

Urbanização que contempla habitação de Interesse Social para 1300 famílias, além do projeto das ruas, calçadão, praças e um parque de cerrado junto a uma área de preservação ambiental. Nessa expansão Urbana da cidade satélite de Ceilândia são previstos também equipamentos como um Centro de ensino, uma escola de ensino médio e um centro comunitário de bairro.

Setor Habitacional Pôr-do-Sol

  • Masterplan da Orla do Lago Paranoá

Projeto urbano e paisagístico da Orla do Lago Paranoá em Brasília no Distrito Federal. Trata a Orla como um parque público e contínuo com áreas de lazer para toda a população, conforme idealizado pelo Plano Piloto de Lúcio Costa. Três áreas, duas no lago sul e uma no lago norte recebem tratamento para se tornarem parques de escala metropolitana.

Masterplan da Orla do Lago Paranoá – Brasília – DF